TRABALHO, CULTURA E ARTE
Em sua obra O Capital karl Marx (1980, p. 202), defende que o "que distingue o pior arquitetoda melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes detransformá-la em realidade." Partindo deste princípio, podemos afirma queatravés do trabalho o ser humano não transforma apenas a natureza, mastransforma primeiro a si, sua forma de pensar e ver o mundo, ao tempo que transformao mundo a sua volta, produzindo novos objetos e novos valores, alterando,consequentemente, a cultura na qual está inserido.
No entanto, a partir da Revolução Industrial (XVIII) a identificação do trabalhador com sua produção foi reduzida. Otrabalhador não se identifica com o trabalho, pois ele não é dono da mercadoriae nem de si mesmo, não escolhe salário, sua função na empresa, jornada detrabalho ou pode opinar no que será produzido. Diferenciando-se da produçãoartesanal, onde o artesão (mestre de ofício) definia o que seria produzido e participavade todo o processo, com o desenvolvimento do sistema taylorista-fordista toda aatividade produtiva tornou-se fragmentada, de forma que o operário conheceapenas um das diversas etapas de produção.
Está é a primeira face da alienação, que coloca oindivíduo na condição passiva, como mero repetidor de movimentos, previamentedefinidos por outrem. Vivenciado esta realidade, como o indivíduo pode sesentir sujeito do processo produtivo? Como se perceber produtor cultural? Deque forma exercer sua capacidade criativa? Ora, o que se tem é o sentimentoinverso, de nada ser ou saber. A sociedade capitalista forma alguns para liderar,ao tempo que prepara a maioria para serem executores. Neste contexto, a própriaconcepção de cultura popular ou cultura erudita perde sua expressividade, poisna atualidade, o desenvolvimento da sensibilidade dos indivíduos não é objetivoprioritário, uma vez que toda é qualquer produção, inclusive a cultural, deveser passível de comercialização e lucro, caso contrário, sua existência não fazsentido, daí o termo Indústria Cultural.
Cabral, colaborador do Portal Brasil Escola, aoanalisar o pensamento de Adorno e Horkheimer, estabelece que a Cultura Popular é "oriundado povo, das suas regionalizações, costumes e sem a pretensão de sercomercializada, enquanto que aquela [indústria cultural] possui padrões quesempre se repetem com a finalidade de formar uma estética ou percepção comumvoltada ao consumismo". Para ele, a arte clássica (erudita), embora possa sercomercializada, este não é seu objetivo primordial. Quanto a sua produção, nãose dá de forma espontânea, "mas é trabalhada tecnicamente e possui uma originalidade incomum".
Para Adorno e Horkeimer, a expressão 'cultura de massa' é fruto de um engodo, uma ideologia, uma inversão, de quem quer fazer parecer que a massa estivesse, espontaneamente, criando uma cultura. Ora, o que existe na prática é uma indústria que entope os indivíduos de imagens e necessidades artificiais que os reduzem a meros consumidores. (Meier, 2014, p. 384)
Segundo Meier (2014,p. 383), a cultura de massa é caracterizada pelo consumo de bens culturaisproduzidos por outros, colocando o povo na condição de incapaz de produzir uma cultura própria, uma vez que a "cultura de massa é gerada pela indústriacultural [...], vinculada a uma economia de mercado, fundadora da sociedade deconsumo". Neste sentido, o que movimenta a indústria cultural é o desejo deposse, que é estimulado incessantemente em cada consumidor. Para isso, os meiosde comunicação de massa fazem surgir novas vontades, que passam a seremsentidas pelo consumidor alienados como necessidades. Assim,
[...] O mundo social resulta em um mundo de coisas a possuir. Tornar-se quase impossível sair
dessa lógica. Será que todas as tentativas de libertação desse círculo vicioso estão condenadas ao fracasso? Para Adorno existe uma possibilidade de saída, a arte. Na arte são possíveis a originalidade e a liberdade, bem como a crítica e a criação do novo. (Meier, 2014, p. 384)
Diante da perda da identidade das culturas populare erudita, sufocada cotidianamente pela indústria cultural, Adorno apresenta aArte como alternativa para a superação da manipulação exercida pelos meios decomunicação de massa, uma vez que favorece a criatividade, a sensibilidade e aautonomia criativa, elementos inseparáveis da produção artística.
A arte, para ele [Adorno], é que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca com um ser autônomo, e, portanto, um ser humano. Enquanto para a Indústria Cultural o homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte é um ser livre para pensar, sentir e agir. A arte é como se fosse algo perfeito diante da realidade imperfeita. (SILVA, Daniel Ribeiro da. Adorno e a Indústria Cultural. Disponível em: https://www.urutagua.uem.br//04fil_silva.htm Acesso em: 12 de dezembro de 2014.)
Segundo Daniel Ribeiro da Silva, a Teoria Estética elaborada por Adorno busca apresentar a Arte como instrumento de libertação humana, se opondo a selvageria da sociedade moderna, ao tempo que salienta que a Indústria Cultural tem relação direta com o momento histórico vivenciado, não é absoluta, podendo, assim, ser superada.
Fátima Silva
